segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Vila Real aquela!...
De Santo António de Arenilha ao Vilaquistão…

Santo António de Arenilha parece ter existido nos finais da Idade Média ali sendo uma Póvoa de pescadores oriundos, alguns, da decadente Baesuris depois da transferência da Ordem de Cristo para Tomar e outros de ascendência castelhana que ali assentaram arraiais pela riqueza da foz do Guadiana! E a Póvoa cresceu e tornou-se Vilheta ou Vilhota com o beneplácito régio de D. Manuel I que reconhece a importância daquela defesa à entrada do rio!... Não seria nada de espantar que, já ao tempo de D. João I no regresso da conquista de Ceuta, o reino se tenha dado conta da sua existência já que, por erro de cálculo, as naus entraram pelo rio julgando tratar-se de Tavira!...
Também não é de pôr de parte a conjectura de que, D. João II, ao tempo em Tavira onde preparava a sua rede de espiões, tivesse mantido contacto com os habitantes de Santo António pois sabe-se que em Huelva e até em Sevilha o Príncipe Perfeito tinha alargado a rede de informadores sobre as pretensões de Castela ao novo mundo por descobrir!... Mas também se sabe ou deduz-se que os sucessivos tremores de terra, maremotos e temporais levaram esta Vila a uma cada vez maior desagregação e consequente abandono por parte dos moradores que se viam a braços com a instabilidade de todo um sistema periclitante dada as transformações que regularmente e ao longo do tempo ocorriam nas embocaduras dos rios do Algarve!...
E chegou o terramoto de 1755 cujo maremoto terá levantado ondas de quinze metros e devorado o que restava dos casebres, igreja e capela ali existentes. Tudo foi varrido e apenas restaram as areias a norte na margem direita do Guadiana onde o Sr Marquês decidiu, com a bênção de D. José, implantar, de raiz, a nova Vila de Santo António! E, por devoção ao Santo ou prurido contra a Ordem dos Jesuítas manteve-lhe o nome do Dr da Igreja, franciscano e que, porventura, como a Sra das Angústias da nossa vizinha Ayamonte, ´terá dado à costa dando o nome à antiga povoação acrescentando Arenilha, de raiz latina e que por este Algarve ainda vi e li chamarem-se outras póvoas de Santo António das Areias, tal era a devoção ao Santo casamenteiro protector dos pobres!...
Pois é esta a história que os meus bonecos do “Bónus Frater” vão contar às nossas crianças (e, aos adultos que se interessarem pelas nossas raízes) especulando um pouco, aliás como também o faz o Dr Hermano Saraiva, recriando as origens da nossa terra com uma aproximação a uma verdade histórica que talvez se tenha algum fundamento! Pelo menos pode tê-lo na literatura e muitos autores houve (lembro Herculano e Garrett) que reinventaram os factos e recriaram a História dando largas à imaginação!...
Pois, criada a nova Vila Real pelo Sr Marquês e trazidos novos habitantes das redondezas para povoar esta nova urbe iluminista, aqui se iniciou de novo a velha faina da pesca da sardinha, da cavala, do biqueirão , do atum, espécies que proliferavam no vizinho Atlântico e aqui se fizeram salgas e conservas e por aqui passaram navios para a recolha de minério, de cortiça, de pedra mármore, de alfarroba e toda a carga que urgia levar até à Europa, nessa altura distante, tão distante desta terrinha de pacóvios aqui à beira mar entretidos com a família, a Pátria, sujeitos à Douta Autoridade e rezando a Deus solicitando protecção e bênção doméstica!...
Tudo isto foram tempos idos que algumas memórias mais frescas relembram em tertúlias e conversas de café como se os tempos recuassem e os fulanos e sicranos que moravam aqui e ali pudessem voltar para nos dizer onde era a vila velha, o que disse o Sr Marquês, que pão se amassou nas mãos do Diabo ou que tempos vale, afinal, a pena mesmo recordar!...
Mas o que poucos sabem é que existe afinal outro espaço de origem virtual, nascido das origens da Vila antiga mas sem Santo nem realeza e que dá pelo nome, imaginem, de Vilaquistão!... Sim Senhor! VILAQUISTÃO!... E localiza-se na Internet, lugar próprio para a criação de novas terras, novos usos e costumes e até novas gentes que se escondem por detrás de um ecran para dizer as baboseiras que lhes vêm à cabeça, anónimos, no silêncio das suas casas e digerindo os fracassos e desandanças da vida!...
Ora vem isto a propósito de um comentário insidioso e anónimo à minha participação com o Auto da Parideira à moda vicentina, em marionetas, nas sessões de esclarecimento sobre a interrupção voluntária da gravidez promovido pelo Partido Socialista em conjunto com intervenientes de outras forças partidárias e até independentes, juntos não na ideologia mas na causa comum que defendiam e a que o referendo passado deu, afinal, razão maior pela força e validade do voto popular!...
Vilaquistão deu cobro e dá voz a gente que se esconde no anonimato e que não têm coragem de assinar e dar a cara quando criticam o que se passa na nossa terra!... Ao menos aqui, neste Jornal, todos têm nome e podem ser identificados!...
E também podem, livremente e sem censuras, criticar o Governo e os seus ministros e a sua política sem que alguém lhes negue a participação em actos de cidadania que entendem ser nobres ou, de acordo com a sua consciência, participar em actos públicos com quaisquer forças políticas mesmo que elas sejam, alguma vez, o alvo das críticas circunstanciais que o momento exige! A isto chama-se democracia!...
- Sra Torre do Sino! Pode-se, ao mesmo tempo, afrontar Deus e rezar, com fé, aos Santos protectores com devoção?!...
- Pois Senhora Torre do Relógio! Todos somos filhos de Deus e pregou Cristo o amor do próximo mas, em dado momento, foi preciso zurragar os vedilhões que profanavam o Templo!... E também foi Jesus tentado, no Horto das Oliveiras pelo Diabo que lhe ofereceu o mundo em troca da subjugação da sua alma!...
- Então pode também o narrador afrontar César mas crendo nas suas hostes e servindo o seu império!... Talvez se confundam, afinal, as cabeças mandantes com todos os outros que, servindo a causa, podem diferir da palavra e da doutrina do Mestre!...
E por aqui me quedo que está dado o recado a quem servir a carapuça!...

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